4 micro aprendizados que mudaram minha vida no trabalho. E porque IA não muda nada (e muda tudo)


Nós humanos somos máquinas de aprender. E cada um aprende um conjunto de coisas diferentes durante sua vida. Todo aprendizado é importante e cumulativo – alguns podem não fazer sentido no momento em que se aprende, mas talvez reapareçam no futuro como essenciais.

Noto que entre as tantas coisas que aprendi no passado, algumas bem específicas fazem muita diferença para o momento que vivo hoje como responsável por administrar e crescer marcas de produtos com venda exclusiva em e-commerce.

Nesse post, falo sobre 4 delas. No final escrevo algo sobre Inteligência Artificial.

1) ARRAYFORMULA()

Aqui na empresa temos planilhas gigantescas para controlar o dia a dia. Planilhas tem um valor gigantesco. Acho que o poder delas vem da característica de serem bancos de dados “abertos”. Os dados todos expostos, as migalhas de pão enfileiradas e prontas para te guiar para os racionais por trás dos números.

A necessidade de uma fórmula um pouco mais esperta surgiu quando eu tinha a necessidade de alterar uma das fórmulas e “arrastar” a atualização para toda a coluna. Depois de muitas vezes usando o método básico pensei “deve haver um jeito melhor de fazer isso“.

ARRAYFORMULA() é uma função do Google Sheets (provavelmente também do Excel, talvez com outro nome) que permite aplicar uma fórmula a um intervalo de células de forma automática. Em outras palavras, permite que uma fórmula seja aplicada a todo o intervalo de células, sem precisar inserí-la em cada célula individualmente. Isso pode ser útil quando se deseja realizar cálculos em grandes conjuntos de dados. Ou conjuntos que podem ter suas fórmulas atualizadas de maneira frequente.

Um exemplo simples de uso da função ARRAYFORMULA() seria a aplicação de uma fórmula de soma a um intervalo de células. Por exemplo, suponha que você tenha um conjunto de dados em uma planilha do Google Sheets, com valores em duas colunas que precisam ser multiplicados (A1:A10 e B1:B10). Para calcular esses valores, você poderia usar o seguinte:

=ARRAYFORMULA(A1:A10*B1:B10)

A fórmula acima irá aplicar a multiplicação a todo o intervalo de células 1 a 10, resultando em uma coluna com os 10 resultados.

Na coluna C apenas a célula C1 possui fórmula.

Em caso de necessidade de atualização da fórmula, você tem apenas uma célula a ser atualizada. Você inclusive pode usar intervalos “sem final”, por exemplo A1:A*B1:B para aplicar em toda a coluna.

2) RSYNC

Esse site em que você está agora é servido a partir de uma plataforma serverless. Isso significa que ele não existe em um servidor gerenciado por nós. Gerenciar servidores dá muito trabalho!

Mas deixemos de lado a questão controversa sobre serverless (sim, é claro que os servers existem, afinal ainda não temos nuvens de verdade processando dados). 

De lado porque nós ainda usamos servidores.

Alguns processos de longa duração não são tão bacanas de serem executadas sem servidores próprios, e outros softwares usados por nós ainda não rodam fora de servidores comuns (ou pelo menos não tão facilmente).

E o rsync entra aí. Rsync é um programa de linha de comando (aquelas janelinhas com apenas texto que os hackers de filmes digitam loucamente besteiras – exceto algumas séries). Seu principal uso é sincronizar arquivos entre locais, que podem ser locais no mesmo computador, na mesma rede ou computadores em redes remotas.

Coloco nessa lista o rsync porque ele já me salvou incontáveis horas com suas capacidades incríveis. Desde que aprendi com o Janio (da melhor hospedagem de alta performance de WordPress do Brasil) o rsync cuida dos meus backups, cuida dos meus deploys, cuida de muita coisa.

Se você gerencia qualquer servidor – ou trabalha com muitos arquivos e tem certa capacidade com a linha de comando – e ainda não conhece (difícil) o rsync – recomendo ir até o terminal mais próximo e puxar o man rsync agora memo.

3) Margem de Contribuição

Ter empresa é fácil. Ter faturamento é um pouco menos fácil. Ter lucro é completamente outra história.

Quando embarquei em 2018 nessa ideia de ter um e-commerce, minha experiência com finanças empresariais era muito baixa, quase nula. 

Comecei a organizar as coisas listando o que entrava e o que saia em termos de dinheiro. Fácil, o que sobre é o lucro. Não?

Seguindo o conselho eterno do ET Bilu, busquei conhecimento em livros e comecei a aprender toda a lógica do dinheiro em uma empresa. Naquele momento o que me guiava era a necessidade de responder a pergunta “essa linha de produtos dá lucro?“.

Essa dúvida me levou até a margem de contribuição.

A margem de contribuição é a quantidade de dinheiro que sobra de uma venda depois de descontar os custos diretos relacionados a essa venda. Ela é calculada subtraindo os custos variáveis da venda dos recebimentos totais. 

Um exemplo de e-commerce:

Produto Vendido por R$150 +
Custo do produto vendido: R$50 -
Frete (variável de acordo com peso/cubagem) R$ 18 -
Comissão marketplace e/ou custo financeiro (10%) R$ 15 -
----------------------------------------------------
Margem de Contribuição = R$ 67

É o que sobra para pagar os custos fixos (em sua maioria salários). Você pode calcular esse valor sobre um produto, uma linha de produtos, todas as suas vendas, etc. É muito útil para entender quanto um determinado segmento está, literalmente, contribuindo para o negócio.

Engraçado notar que provavelmente aprendi isso e outras coisas gerenciais na universidade, mas esqueci até que sumiram. Nesse aparte trago um hot take: aulas em universidades de negócios deveriam funcionar como empresas reais, sendo os alunos responsáveis por resolverem problemas do dia a dia junto do aprendizado da teoria, pois da maneira que é feito hoje tudo se esquece logo após as provas.

Aprender sobre a Margem de Contribuição foi o que desbloqueou o mundo dos relatórios financeiros na minha mente.

4) Informação é como alimento

Imagine acordar e antes de levantar da cama atacar um pote de snacks industrializados com níveis obscenos de sódio e gordura saturada.

Depois de comer porcarias durante 15min você levanta, escova os dentes, toma seu banho, faz o café, etc. Ao sentar na mesa para seu café da manhã, você pega um pote de sorvete e durante 30 minutos o detona. Colherada por colherada. Feels good, right?

Ao longo do seu dia sempre que o tédio bate rapidinho você puxa e come um chocolate. Toma um refri bem açucarado. E assim por diante.

No final do dia é hora de descansar: você senta no sofá e passa horas comendo vários fastfoods com muito queijo derretido, bacon e fritura!

Você deve ter notado que a analogia é o consumo de informação.

A informação que você coloca para dentro da sua cabeça segue a mesma lógica do alimento. Se você consome porcaria, sua saúde vai se degradar.

Foi quando me dei conta dessa lógica perversa do vício em redes sociais que comecei a buscar meios de reduzir o consumo de facebook, instagram, twitter, etc.

Como todo viciado, às vezes me vejo numa recaída, mas ter a noção do que estou fazendo me ajuda a voltar para um caminho melhor. Aprender isso mudou a minha vida para melhor. 

5?) E a próxima coisa que me parece muito promissora: IA como uma ferramenta.

As discussões éticas e econômicas são intermináveis. Os senhores feudais digitais capturam e processam as informações geradas por incontáveis seres humanos e criam ferramentas (pagas) que produzem informação re-organizada como se fosse novinha em folha.

De um lado os tecno-utópicos prometendo avanços quase incompreensíveis na tecnologia até o ponto da singularidade. Do outro lado os anti-tecnologia pisando no freio e expondo todo tipo de desastre humano que pode vir acontecer.

Tentando entender onde está o meio termo disso tudo cheguei a conclusão que o desenvolvimento de IA atingiu uma maturidade ferramental útil, e que vai ficar por muito tempo nisso, aperfeiçoando as arestas.

Se assim for, os utópicos ficarão um pouco chateados e os anti-tecnológicos vão engolir o orgulho e passar a integrar ferramentas com IA no seu dia a dia.

IA como ferramenta é a automatização das etapas manuais no processo criativo humano. É estranho que ilustradores fiquem revoltados com a possibilidade de uma máquina fazer o desenho, sendo que a máquina não pensa em qual desenho fazer. A máquina não conhece o contexto, não sabe qual é o motivo, não sabe avaliar o que criou.

O escritor, o desenhista, o programador, etc continuam sendo absolutamente cruciais no processo de criação. A criatividade não existe na máquina – e há quem acredita que jamais vai existir.

No tempo que este texto é apenas um rascunho eu vi uma discussão acerca desse assunto. Uma pessoa usou ferramentas de IA para criar um história infantil, a ilustrou com uma IA criadora de imagens e então publicou o livro infantil, com seu nome na autoria. 

Escritores e ilustradores estão revoltados com isso. Uma ilustradora se deu ao trabalho de apontar todos os defeitos em uma imagem gerada.

Esse julgamento do que está errado na imagem é, na essência, o que faz dela uma artista. Certamente se um bom escritor analisar o texto também vai encontrar diversos problemas que poderia corrigir.

A pessoa que criou este livro com IA poderia tê-lo feito desenhando pessoas palito (provavelmente ele não sabe desenhar). E poderia ter escrito a história (provavelmente não seria muito melhor do que escreveu a IA).

Ele poderia ter feito o desenho e o texto no Photoshop e no Word. Ou será que artistas de 1920 ficariam revoltados com o uso de uma máquina para desenhar e escrever? Deveria usar um bom conjunto de lápis, canetas e papéis para o trabalho? Mas lápis, caneta e papel são mesmo necessários? Talvez o homem das cavernas achasse um absurdo, afinal ele consegue e muito bem desenhar com tinta de frutas nas paredes da caverna.

IA sozinha é tão útil quanto um pedaço de carvão, um martelo parado, uma CNC com o cabeçote estacionado.

Parar de se deslumbrar com as promessas dos tecno-utópicos foi, pra mim, um avanço. Isso me possibilitou enxergar a real utilidade dessa nova onda de inteligência artificial.

A propósito, algumas partes desse texto foram geradas com IA. Estamos aos poucos descobrindo implementações específicas dessa ferramenta aqui na empresa.

Inteligência mesmo é só a natural

Para encerrar o texto, preciso dizer que sou um cético com todos os avanços prometidos. A inteligência humana é e será por muito tempo ainda (pelo menos milhares de anos) o motor da civilização. Todos os riscos malucos de máquinas dominando o mundo são produto da nossa criatividade. Apenas isso.

E acreditando nisso que todos os dias eu tento aprender coisas novas, combinar conhecimentos e sempre que possível ensinar alguém sobre eles.

Esses micro conhecimentos listados aqui são apenas um poucos exemplos da incrível cadeia ferramentas que os humanos são capazes de criar. 

Uma fórmula de planilhas, um programa de linha de comando, uma atitude frente à epidemia de lixo das redes sociais e uma métrica financeira. 

Ferramentas.

Assim como IA, apenas ferramentas.